sexta-feira, 24 de abril de 2009

O futebol do caviar, das Ferraris e da Louis Vuitton


Povão se prepara para assistir a Corinthians e Flamengo.


Se já custava os olhos da cara, ficou pior. A
decisão cobra a cabeça inteira.

Num país como o Brasil, mesmo com os avanços
econômicos e a redução da desigualdade em anos
recentes, é vergonhoso o preço dos ingressos.

No Pacaembu, iremos de R$ 40, R$ 80, R$ 120 ou de
R$ 200.

Na Vila Belmiro, a arquibancada bateu em R$ 80!

Dá para comprar 197 ovos ou 17 latinhas de
manteiga Aviação ou 29 quilos de arroz agulhinha
Tio João.

Aqui no Paca, a "bancada" sairá por 21 Brahmas de
473 ml... Ou 25 bebidas lácteas de 200 ml da Batavo.

Pelos R$ 200 da VIP, paga-se uma prestação do plano
de saúde da Medial, uma "saída" no Connection (essa
casa de beldades que alguns atletas frequentam) ou
quatro garrafas de vinho Beaujolais Village.

O futebol vai voltando a ser esporte de elite, aos
poucos, que é para não escandalizar demais.

Na decisão carioca, uma arquibancada superior já
sai por R$ 40. Uma cadeira especial tem preço de
R$ 120.

Até na Ilha do Retiroe, Pernambuco, já há
arquibancadas (central) por R$ 60 e cadeiras de
R$ 120.

O plano é chutar miseráveis, pobres, remediados e a
classe média-média dos estádios. É trocá-los pela
turma do caviar, das Ferraris, da Louis Vuitton e
da Chanel.

Clubes, federações e CBF estão nessa juntos,
auxiliados pelos promoteiros e imprensaleiros.

Vale lembrar o que revelou, poucos anos atrás, numa
entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o então
diretor-executivo do Clube dos 13, Mauro Holzmann,
antecipando o projeto de "refino" da torcida.

"Você tem de voltar o futebol aos 20% mais ricos da
população. É antipático, é elitista, mas tenho de
trazer para o estádio pessoas que possam gastar
dinheiro".


E assim se acabou com a antiga "geral". Deu-se um pé
na bunda dos apaixonados "geraldinos".

A idéia, há tempos, é fazer novamente do futebol o
que era na época dos janotas do Paulistano e da A. A.
das Palmeiras.

É oferecer camarote com champagne francesa e caviar,
conforme o que já se viu no Morumbi, e pista de dança
agregada, para quem enjoar do jogo de bola.

A imprensa imprensaleira faz sua parte nessa bem
ensaiada encenação.

Mobiliza-se para maximizar qualquer episódio de
violência nos estádios. Oculta, por exemplo, que em
shows de rock e pop o número de ocorrências policiais
chega a ser cinco vezes maior, conforme números das
secretarias de Segurança Pública.

Aí, entram os promotores moralistas e bem mimados, que
se preparam para exigir a tal "torcida única".

Exigiram 10%, 5% e engatilham o 0%.

Aliás, a "lei" dos 5% cria ambientes de barbárie caçadora
nos estádios. Pela diferença numérica, os torcedores
mandantes sentem-se poderosos e autorizados a hostilizar
a minoria visitante.

A polícia faz o resto do serviço da campanha de
criminalização do povo, tratando o "pobre" como bandido,
mesmo que 99,99% dos torcedores jamais tenham se envolvido
em qualquer confusão.

O encarecimento dos ingressos tem uma falsa justificativa:
o "preço do negócio futebol".

Afinal, este deveria contar com recursos de outras fontes,
como quotas de televisão e venda de produtos licenciados.

Se é preciso elevar preços de ingressos é porque existe
incompetência entre os captadores ou má gestão dos
recursos, o que inclui práticas criminosas largamente
difundidas entre a cartolagem.

O "jogo paixão" atrapalha o "jogo negócio". Afinal, para
as gangues de usurpadores do esporte bretão é melhor
ganhar dinheiro que vencer campeonato.

Há, paralelamente, um claro viés ideológico conservador no
projeto de elitização do esporte.

Entre os novos donos do futebol, muitos desejam a limpeza
étnica, a segregação e o apartheid.

Para não aparecerem como vilões na fita histórica,
reservarão uma fatiazinha das arquibancadas para um
grupinho da "plebe", bem cercado, vigiado e carimbado.

Restará o que aos pobres e médios? Bastarão a igreja, a TV
e o boteco?

O tempo dirá se estão matando a galinha dos ovos de
ouro.

5 comentários:

Tatanka Yotanka disse...

***
Adendo útil:

http://opiodopovo.wordpress.com/2008/12/05/1397/

Carlos Thunder 5 disse...

....Parece não ter mais fim esse caminho.Fico desiludido sobre ingre$$o$ pro povão viu!?..E pra família tem??...aff!!...assino em baixo.....Carlos Thunder 5

Filipe disse...

Caro Tatanka; análise fria e calculista, portanto necessária. Estou tomando a liberdade de alastrar esse texto. E, claro, de futuramente linká-lo.
Parabéns.

Abraço.

René disse...

O pior é essa desculpa da contenção da violência. Ô paisinho hipócrita! Nem coragem esses cretinos tem, de assumir logo de uma vez: quero ganhar dinheiro da noite p/ o dia e não gosto de preto e pobre!

Ricardo disse...

O papel que cabe ao Corinthians, na condição de único grande clube brasileiro essencialmente popular: construir um novo estádio, com grandes dimensões (o maior estádio do Brasil, para a maior torcida do Brasil) . E que suas acomodações sejam, na maioria, constituídas de arquibancadas e de gerais. Um modelo que se aproxime do antigo Pacaembu, o qual, dos 70 mil lugares disponíveis, pelo menos 55 mil possuíam preços populares. Bem diferente do compartimentado e elitizado Pacaembu de agora, com capacidade para apenas 35 mil pessoas, das quais pouco mais da metade nas arquibancadas e tobogã, ficando as demais nas numeradas e "cadeiras especiais".