sexta-feira, 5 de junho de 2009

Assassinato: A história deturpada pela imprensa

Por Luciano Martins Costa em 5/6/2009
Comentário para o programa radiofônico do OI, 5/6/2009


A imprensa tem um discurso único para descrever a violência associada a torcidas organizadas: a de que bandos de criminosos usando uniformes de times de futebol combinam encontros para realizar suas batalhas, ou armam emboscadas para agredir os adversários.

Essa é a versão corrente nos jornais desde quinta-feira (4/6), quando se noticiou pela primeira vez o choque entre cerca de 450 torcedores do Vasco da Gama e perto de 50 torcedores do Corinthians, pouco antes da partida de quarta-feira (3) pela Copa do Brasil, no estádio paulistano do Pacaembu. Os jornais aceitam a tese de que 50 torcedores corinthianos provocaram uma briga com um grupo de vascaínos em número quase dez vezes maior.

Que o comportamento das hordas ultrapassa o limite do compreensível é tema de muitas dissertações, das quais talvez a mais densa esteja no clássico Massa e Poder, de Elias Canetti. Mas qualquer jornalista tem obrigação de desconfiar da tese de que um grupo minoritário se disponha a enfrentar em batalha uma força muitas vezes superior.

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Versão oficial

Foi o que fez a repórter Leonor Macedo, da revista TPM. De dentro do estádio, ela ficou sabendo que teria havido um confronto entre torcedores corintianos e vascaínos, com graves consequências. Pelo telefone e, posteriormente, em conversas com testemunhas, ela reconstitui uma história que não está nos jornais.

Relata a jornalista (ver o texto aqui) no site da TPM que o confronto foi provocado por falta de coordenação entre dois grupos de policiais designados para acompanhar os movimentos das torcidas organizadas antes do jogo.

Um grupo de policiais teria parado o ônibus dos corintianos para uma revista nas proximidades do Clube Espéria, na Marginal do Tietê. Sem coordenação, outro grupo de policiais que escoltava os quinze ônibus de vascaínos também parou o comboio que vinha do Rio de Janeiro, a curta distância do local onde os corintianos esperavam terminar a fiscalização.

O confronto teria começado aí, provocado por um erro tático da polícia.

A versão oficial, defendida pelo promotor encarregado do caso, conta uma história quase inverossímil. Mas a imprensa compra a história sem ouvir testemunhas.

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