quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Business e gestão da vontade

Peter Drucker, o maior guru da Administração, escreveu linhas esclarecedoras sobre a gestão de pessoas no moderno contexto de competição corporativa.

O afamado professor ensinava que, nos novos cenários, os colaboradores devem ser persuadidos a executar suas tarefas e que a mobilização se constitui num trabalho de marketing interno.

Afirmava ainda que teoria e prática definem uma estratégia de “administrar para o desempenho”.

Na tarefa de gerir parcerias entre lideranças e liderados, o professor austríaco sentenciou:

- O ponto de partida pode ser uma definição de resultados – exatamente como o ponto de partida do regente da orquestra é a partitura e o do treinador de futebol é marcar pontos.

Ironicamente, o esporte referido por Drucker costuma ser o primeiro a corromper os princípios básicos da administração.

O Corinthians, campeão paulista e da Copa do Brasil, por exemplo, ofereceu no segundo semestre um formidável exemplo de liderança para o fracasso.

Baseados em alguma teoria heterodoxa, seus dirigentes definiram que “o objetivo do ano já estava alcançado” no mês de Julho.

Em seguida, denominaram “planejamento” o desmonte da espinha dorsal da equipe e a conversão do Brasileiro em laboratório de rachões de luxo.

Essa política foi aliada ao encarecimento dos ingressos. Afinal, segundo o cartola Mario Gobbi, futebol hoje é “business”.

O resultado dessa estratégia de gestão tem sido visto em campo. Quem paga o alto preço dos ingressos no Pacaembu é brindado com derrotas humilhantes. Goiás e Atlético Paraense, juntos, meteram sete gols nos mosqueteiros.

Depois do empate contra o Fluminense, pior time do campeonato, até o técnico Mano Menezes admitiu a displicência e falta de vontade de boa parte do elenco.

Agora, indaga-se: o que se esperar de um grupo de trabalho cujas lideranças definem, por antecipação, que a jornada está concluída?

Imagina-se, por exemplo, uma equipe de corretores imobiliários cujo líder defina, em Julho, que a meta de vendas já foi alcançada.

O que esperar de trabalhadores que julgam já ter realizado o necessário?

É da natureza humana o senso de urgência e obrigação na atividade laboral. Decretar o fim de uma missão equivale a desmobilizar o grupo e entregá-lo à preguiça dos milionários.

No Corinthians, como denuncia Mano, já não há energia nem para a comemoração dos gols.

O fenômeno, entretanto, não é privilégio do alvinegro do Tatuapé.

Temos testemunhado situações semelhantes em várias outras equipes, geridas segundo os padrões do amadorismo, em que a busca de resultados é substituída pelo “amiguismo” demagógico.

Se houver um business no futebol, ele deve servir para concretizar a missão essencial do clube: gerar satisfação para sua torcida.

Mas que business é possível se a gestão sabota a vontade dos próprios colaboradores e transforma em farsa o espetáculo oferecido no mercado?

Por Walter Falceta Jr. - Jornalista